‘Faz-tudo’ de Temer foi solto mesmo sem depor

João Baptista Lima Filho, o coronel Lima, amigo e ‘faz-tudo’ de Michel Temer, foi o único dos presos no caso dos portos que se negou a prestar depoimento. Ainda assim, foi libertado pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, a pedido da procuradora-geral da República Raquel Dodge. Por quê? Dodge e Barroso levaram em conta o direito constitucional do investigado de permanecer em silêncio. Avaliaram que não faria sentido manter o personagem preso. Por isso, o soltaram junto com os demais.

Suspeito de ser “laranja” de Temer e de receber propinas em nome do presidente, o coronel Lima esquivou-se da inquirição alegando problemas de saúde. Neste domingo, 1º de abril, Dia da Mentira, faz aniversário de 10 meses a primeira intimação endereçada pela Polícia Federal ao amigo de Temer. No total, ele foi intimado três vezes. Não atendeu a nenhuma das convocações da polícia. Sustenta que um câncer e dois AVCs o privaram das condições ”físicas” e ”psicológicas” necessárias para depor.

Há duas semanas, o repórteu Hugo Marques telefonou para a casa do coronel Lima. Ele atendeu. Embora contrafeito, respondeu a uma série de perguntas. A debilidade física não o impediu de mover os lábios. Soou como se estivesse em perfeitas condições psicológicas. Estava tão lúcido que definiu sua relação com Temer assim: “Em toda convivência com Michel, ele sempre foi muito atencioso comigo, muito carinhoso comigo. O senhor deve ter amigos que preza. É essa a amizade, é uma coisa pura, não tem outros interesses que não a pura amizade.”

Temer conheceu o coronel Lima quando ele ainda era major da Polícia Militar paulista. Deu-se em 1984, ano em que o agora presidente da República assumiu a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Nessa época, Lima era seu ajudante de ordens. Em 1986, Temer começou a disputar eleições. E o coronel Lima passou a trabalhar em seus comitês eleitorais. Desenvolveu-se uma amizade. O inquérito dos portos reuniu indícios eloquentes de que essa comunhão descambou para um relacionamento monetário, construído nas franjas do Estado.

O silêncio do coronel Lima grita aos quatro ventos que o amigo do presidente é capaz de tudo, menos de fornecer explicações plausíveis. No seu caso, o mutismo é um outro nome para medo. O amigo de Temer sabe o que fez nos verões passados. E percebe que os investigadores fecham o cerco. Até o seu sigilo bancário já foi quebrado. Os extratos das contas do amigo Temer também estão sendo varejados.

Nesta terça-feira (3), faz um mês que a notícia sobre a quebra do sigilo bancário de Temer e dos seus amigos ganhou as manchetes. Nesse dia, o presidente mandou soltar uma nota anunciando que entregaria seus extratos graciosamente aos jornalistas. “O presidente não tem nenhuma preocupação com as informações constantes suas contas bancárias”, escreveu a assessoria do Planalto na nota. Decorridos 29 dias, nenhum repórter recebeu os extratos do presidente.

O recuo de Temer e o silêncio do amigão Lima comprovam a tese segundo a qual a coragem é uma estranha qualidade que foge exatamente no momento em que as pessoas estão mais apavoradas.

JOSIAS DE SOUZA



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