Cratera na Prudente de Morais mata mais uma vez Giácomo Palumbo

Por Dinarte Assunção 

Quando se falta essência, capricha-se na aparência. Dá-se o nome de maquiagem a esse artifício que Natal tão bem conhece, especialmente pela habilidade com a desfaçatez que tem seus gestores.

Faz tempo que Natal não tem um gestor que pense além da imediata urgência do agora. Se à maioria das pessoas é um desafio sair do reviver do passado ou da ansiedade sobre o futuro e focar no presente, para a cidade vigora o inverso: há uma enorme capacidade em viver apenas no agora, o que é feito tão irresponsavelmente que as lições do passado ou planejamento do futuro são negligenciados.

Nem sempre foi assim.

Prestes a celebrar o centenário da chegada de Giácomo Palumbo, Natal é a Macondo dos ‘100 Anos de Solidão’ de García Marquez: há uma extirpe reprisando erros. Marquez diz em seu texto que extirpes que reprisam erros não devem ter segunda chance.

Aqui, quem não tem chances somos nós.

Na década de 1920, Giácomo Palumbo, a convite do então prefeito Omar O’Grady, planejou Natal. Pensou o urbanismo para quando a cidade alcançasse 100 mil habitantes, o que veio acontecer perto dos anos 1960.

Palumbo deixou diretrizes para o que fazer quando a primeira etapa fosse concluída, mas elas se perderam numa incineração. Vem de longe a negligência de nossos gestores.

A cada vez que Natal desmorona com questões urbanas, morre mais uma vez Giácomo Palumbo. Sua tumba, neste domingo, é a Avenida Prudente de Morais.

Através dos anos, Natal vem mostrando sua enorme incapacidade em lidar com a menor das garoas. Nossos gestores atribuem o caos que se instala na cidade a coisas diversas – até à própria chuva – só não conseguem fazer a autocrítica sobre nossas tragédias cotidianas.

É o caso da cratera que se abriu na Prudente de Morais e que tragou a todos nós mais uma vez.

A culpa foi da chuva. Foi da qualidade do material do asfalto. A culpa foi do último motorista que passou pela via. Foi de quem colocou a tubulação ali embaixo. A culpa é do Sol que está na casa de Touro.

Só não tem culpa quem se nega a parar para planejar a cidade e vai tocando Natal ao sabor das circunstâncias. Haverá o dia em que uma tragédia acontecerá. Será culpa de Deus, talvez. De nossos gestores esquizofrênicos é que não será.



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